terça-feira, 28 de setembro de 2010
[O meu trabalho] [I love this shit]
O rio Ôlo em Setembro está espantoso, deslumbrante, extra-ordinário se é que não me faço entender. Às vezes vou para lá sozinho, outras com a minha mãe, o meu pai, a minha irmã, amigos ou o meu cão. Desta feita fui com o meu cão, o Iuri. Este animal tem uma grande afeição por mim, talvez pelos passeios que eu fazia com ele após o meu retorno da República Checa, vai para 6! anos. Soube que ele veio parar a minha casa em Amarante por telefone, estavamos em Janeiro. Na altura a outra cadela a quem me tinha afeiçoado tinha morrido à pouco, a Surya. Pensei que se linche o cão. Acho que na altura vi fotografias dele na câmara digital que pedi à minha irmã para levar. Era uma Casio. Lembro-me que a deixei cair num dos bares locais, não me recordo o nome, vá-se lá saber porquê. Deixou de funcionar mas a garantia acabou por cobrir sob a desculpa de trepidação no veículo automóvel. Talvez a minha paixão por fotografia tenha começado aí, na vontade de eternizar momentos, e muito mais experiências marcantes ao nível cultural e social como foi aquele Erasmus. Simplesmente não fazia sentido para mim não ter máquina. Regressado em Maio lá começaram os passeios com o cachorro. Lembro-me de precisar de estudar para finalizar a licenciatura e dado estar a atravessar um período extenuante a nível mental costumava ir para o rio Ôlo todas as tardes dar umas braçadas e relaxar. Acho que o Iuri adorava isso. Lembro-me de ele cair naqueles caminhos sinuosos para chegar ou ao vir da mini-hídrica desactivada. Era como um louco. Ainda tenho umas fotos dele nesse tempo que terei oportunidade de publicar. Também o costumava levar à minha madrinha. Não serei capaz de enunciar as razões com exactidão que o levaram a adoptar-me, muito embora não o tenha conhecido desde o início. Passaram seis anos. Na minha vida existiram algumas alterações, na do Iuri também. Acho que estamos os dois mais maduros, eu continuo sem juízo, ele também não tem o juízo todo. Mas ao menos já não cai. Se bem que estando entediado, hoje, acabou por ir dar umas voltas descendo as pedras em direcção ao rio, sozinho. Nada de mais, não fosse a sua incapacidade de retorno por meios próprios, entenda-se tive de ir atrás dele para que ele pudesse voltar. Mas não o fui buscar. Não sendo ele capaz de saltar para a margem do canal que é uma espécie muro para regressar eu também não o fui buscar lá em baixo, se bem que a altura naquele ponto não seria muito superior a um metro. Sentei-me no muro e abri as pernas, para ele perceber que se tinha de colocar no meio delas para eu o prender e o puxar. Inicialmente fez isso, mas por qualquer motivo a experiência falhou e quando eu esperava que ele repetisse percebi que ele perdeu a confiança em que eu o puxasse com as pernas. Mas não desistiu e tentou saltar sozinho. A impulsão dele dava para pouco mais de metade da distância mas como saltou para o meio das minhas pernas acabei por puxá-lo e por ajudá-lo no desenrascanço, na sua própria epopeia. Não é uma grande história esta. Há-de ser como o Sol no meio das árvores no regresso do Ôlo com as cores indescritíveis já não queimadas pelo Verão. Há-de ser como os fragmentos de memória de um vidro partido que este texto possa ajudar a colar. Haja Sol de fim de Setembro.
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